Uma área de baixa pressão avançou nas últimas horas do Nordeste da Argentina e do Paraguai para o Rio Grande do Sul e reforçou a instabilidade no estado gaúcho com chuva intensa em diversas localidades, muitos raios e queda de granizo em vários municípios. Este centro de baixa pressão vai dar origem amanhã a um ciclone sobre o Atlântico a Leste da costa gaúcha, em mar aberto. O centro de baixa pressão que vai se aprofundar sobre o Atlântico foi responsável pelas nuvens muito carregadas que se formaram sobre o Rio Grande do Sul na noite da terça-feira e durante a madrugada desta quarta, produzindo intensas precipitações com pancadas de chuva por vezes torrenciais e que trouxeram volumes elevados em curto período.
Os maiores volumes de chuva nas últimas horas se deram no Centro, no Oeste e no Sul do Rio Grande do Sul, tal como era alertado pela MetSul Meteorologia. Os acumulados desde ontem à noite passam de 100 mm em alguns pontos entre o Centro e o Sul do estado com chuva excessiva e por vezes torrencial. Dados de estações do Centro Nacional de Monitoramento de Desastres e do Instituto Nacional de Meteorologia mostram que em apenas 12 horas até 9h desta quarta-feira choveu 99 mm em Santa Maria, 91 mm em Caçapa do Sul, 84 mm em Encruzilhada do Sul, 78 mm em São Lourenço do Sul e Santiago, 77 mm em Cachoeira do Sul, 75 mm em Viamão, 74 mm em São Borja, 72 mm em Candelária e 71 mm em Camaquã.
Na soma de 24 horas, até 9h desta quarta-feira, os acumulados foram de 139 mm em Santa Maria, 137 mm em Caçapava do Sul, 116 mm em Encruzilhada do Sul, 108 mm em Cachoeira do Sul, 107 mm em Santiago, 103 mm em Candelária e 102 mm em São Lourenço do Sul. Em Porto Alegre, a chuva em alguns bairros entre a noite de ontem e hoje de manhã passou de 70 mm.
Houve ainda temporais de granizo, como em Santa Maria na noite de ontem. O número de raios no Rio Grande do Sul registrado em 24 horas até 9h de hoje foi de 232.162. Os municípios que mais tiveram descargas no período foram Alegrete (13.929), São Borja (10.586), Santiago (7.576), Itaqui (7.365), São Gabriel (7.116), Uruguaiana (6.651) e Rosário do Sul (5.601). A atuação do centro de baixa pressão ainda deixa o tempo ventoso. Temporais isolados geraram vento forte a intenso localizado. A estação do Instituto Nacional de Meteorologia em Canela, na Serra Gaúcha, registrou rajada de 98 km/h na noite de ontem.
O vento do quadrante Sul e a chuva volumosa em Porto Alegre elevaram acentuadamente o nível do Guaíba nas últimas horas. Após ter chegado a 1,96 metro no fim de semana depois do pico de 2,46 metros do dia 7 de setembro, o Guaíba estava no final da manhã de hoje em 2,40 metros na régua de monitoramento do Cais Mauá, junto ao Centro. A TRAJETÓRIA DO CICLONE Um centro de baixa pressão estava no final da manhã de hoje sobre a Metade Norte gaúcha. Da tarde para a noite desta quinta, a área de baixa pressão estará sobre o Atlântico junto ao Sul de Santa Catarina e o Litoral Norte gaúcho, mas não será muito profunda.
Na madrugada e manhã desta quinta, o centro de baixa se aprofunda no Oceano Atlântico a Leste do Rio Grande do Sul como um ciclone extratropical. O modelo europeu projeta pressão mínima central de 997 hPa, logo não se trata de um ciclone intenso. No final do dia, já distante do continente e movendo-se rapidamente para Sudeste, o sistema deve ter pressão de 995 hPa.
Trata-se, assim, de um cenário muito diferente de junho e julho em trajetória e intensidade do ciclone. Em junho, ao contrário, o ciclone avançou do mar em direção ao continente e ficou por muitas horas rente à costa no Litoral Norte com grande intensidade antes de se distanciar para Leste, o que não vai ocorrer agora. Em julho, a ciclogênese se iniciou sobre o Rio Grande do Sul e ao atingir o mar o ciclone era intenso junto à costa, o que igualmente não vai ocorrer desta vez.
As rajadas, em média, devem ficar entre 50 km/h e 80 km/h, mas localmente serão superiores, especialmente na costa e na Lagoa dos Patos e áreas adjacentes, o que inclui a capital e o Sul da Grande Porto Alegre. Nas áreas mais elevadas dos Campos de Cima da Serra do Rio Grande do Sul e do Planalto Sul Catarinense o vento em alguns pontos pode ficar perto ou acima de 100 km/h.
A boa notícia é que quando o campo de vento do ciclone começar a adquirir maior extensão e intensidade sobre o Oceano Atlântico entre amanhã e sexta, o sistema já vai estar em rápido afastamento da área continental. Como estará mais distante e como é menos intenso que os ciclones de junho e julho, o resultado será menos vento que nos dois episódios. Adverte-se que, com o solo saturado de umidade pelo excesso de chuva, mesmo vento moderado já é capaz de gerar quedas de árvores em Porto Alegre e outras cidades. Como são esperadas rajadas, o risco de queda de árvores passa a ser muito alto. Não podem ser descartados ainda cortes de energia elétrica. O vento do quadrante Sul deve ainda manter o nível do Guaíba muito alto com inundações nas ilhas.