(Foto: Divulgação )
O JA O Regional entrevistou, com exclusividade, o Diretor da concessionária Araricá Saneamento, Gilberto Santos, para esclarecer algumas dúvidas relacionadas à água no município, os investimentos já realizados e aqueles projetados para os próximos anos na cidade. As perguntas foram feitas por moradores, após uma enquete nas redes sociais. A reportagem circulou na edição impressa do jornal, desta sexta-feira,15.
Confira a entrevista.
1- Qual motivo para tanta falta de água na cidade? Principalmente na Morada Nobre.
O contrato de concessão do saneamento em Araricá origina-se de uma concorrência pública que ocorreu em 2022, uma licitação. A Araricá Saneamento assumiu a concessão do saneamento no município em 17 de julho de 2023, quando a concessionária de fato iniciou a operação conforme determina o Contrato nº.040/2023. Portanto, faz exatamente seis meses que estamos trabalhando no saneamento da cidade. Em seis meses a Araricá Saneamento já investiu mais de R$ 5 milhões. Atualmente, somente 25% das residências do município de Araricá dispõem de rede de distribuição de água tratada, isto é, encanamento que faz com que a água chegue até a residência do consumidor. Desses 25%, aproximadamente, 70% das residências possuem abastecimento de água alternativo sem qualquer tratamento adequado. Outros 72% são atendidos por poços artesianos particulares. Além disso, 3% da população depende de caminhão pipa para ter água potável em suas residências. Mas nossa meta é reverter esse cenário através de pesados investimentos. Durante o período de concessão serão investidos R$ 32 milhões somente na área de saneamento, valor que a prefeitura teria dificuldades de aportar. A falta de água na cidade é um problema crônico que está presente bem antes de assumirmos. Mas estamos trabalhando para resolver. Todavia, identificamos que os vazamentos de água são um grande problema nas cidade, tanto na rede pública como nas residências. Toda a semana encontramos vazamentos na rede de distribuição e corremos para fazer a manutenção. Reiteradas vezes nossos técnicos, que estão sempre nas ruas, identificam vazamentos dentro das residências. Esse é um problema grave, pois compromete os reservatórios de água da cidade e ai, consequentemente, falta água. Para se ter uma ideia, no Brasil, a média de perdas de água por vazamentos aparentes e ocultos são da ordem de 42%, ocasionando prejuízos aos municípios e deixando de abastecer muitas residências.
2- Após o início da cobrança, qual valor que será cobrado sobre consumo de água?
Recentemente, a Araricá Saneamento promoveu a troca do hidrômetro de centenas de imóveis. Ou seja, o hidrômetro do imóvel foi substituído pela Araricá Saneamento por um novo sem qualquer custo adicional, é bom destacar. Nos meses de Julho, Agosto, Setembro e Outubro houve cobrança apenas da tarifa de serviço básico dos usuários, conforme determina o contrato de concessão. Agora, o valor cobrado corresponderá com o consumo medido no hidrômetro. Por isso temos reforçado a necessidade de os cidadãos de Araricá ficarem atentos com vazamentos, tanto na área pública quanto em sua residência. Os vazamentos, e são muitos, tem comprometido sobremaneira o abastecimento. Ainda sobre o cronograma de cobrança, divulgamos isso na cidade, entregamos folhetos e divulgamos em nosso site e redes sociais. Nesse período de quatro meses iniciais, os usuários pagaram apenas a tarifa básica e ficaram isentos da cobrança de valores relativos aos metros cúbicos efetivamente consumidos de água e do esgoto. Ao mesmo tempo, nesse período, a concessionária fez inúmeras obras e investimentos na rede de distribuição que segue apresentando problemas de vazamento que, quando identificados, são solucionados imediatamente. Nesse período também temos trabalhado no recadastramento dos consumidores, o que é essencial para ter uma dimensão exata da demanda do município no que se refere ao saneamento. Todavia, muitos moradores têm se negado a se recadastrar.
3- Como serão feitas as cobranças?
Depende do consumo de cada residência. O hidrômetro vai registrar o consumo e o técnico leiturista vai registrar. O ideal é ficar atento ao consumo de água. É preciso conferir se há vazamentos, pois a cobrança ocorre de acordo com o consumo de cada unidade (residência, comércio, indústria, etc). A sugestão é o cidadão consultar o seu cadastro junto a Araricá Saneamento e, com matrícula em mãos, simular o valor da próxima fatura em nosso site. Se for o caso, o consumidor pode ir até nosso escritório que estamos à disposição para esclarecer dúvidas.
4- Porque pagar uma taxa se não há água para ser consumida?
A situação da falta de água é a mesma para todos os bairros do município de Araricá. Não temos ainda volume de água suficiente para atender 100% da área urbana do município e os vazamentos potencializam esse problema. Hoje estamos atendendo 20% da população. Liberamos o abastecimento das 16h e suspendemos as 21h, todos os dias, como forma de conseguir recompor o armazenamento de água nos reservatórios. Por isso também temos orientado que a população tenha caixas d´água. A tarifa cobrada respeita o contrato de concessão que é fiscalizado pela agência reguladora, a Agesan. Essa tarifa vai subsidiar os investimentos e obras que serão feitas para universalizar o saneamento da cidade. Por exemplo, periodicamente, as equipes de técnicos e químicos da Araricá Saneamento realizam a análise da água que chega ao consumidor. São realizadas, no mínimo, 16 análises de cada parâmetro: pH, Cor, Turbidez, Flúor e Cloro Residual. Fizemos a manutenção de bombas e poços artesianos, realizamos a limpeza de reservatórios de água, instalamos clorador automático e fazemos o monitoramento online, 24 horas todos os dias, do nível dos dez poços e fazemos frequentes testes de vazão.
5- Tem um prazo para o abastecimento completo de 100% para os moradores de Araricá?
Até o fim de 2023, o objetivo é abastecer com água potável 35% da área urbana sob a concessão da Araricá Saneamento pela rede pública de abastecimento. Até julho de 2024, o objetivo é abastecer mais 50% da cidade e, até julho de 2025, mais 50%. Enquanto isso, contratamos caminhões-pipa para abastecer aquelas residências onde água não chega devido a problemas na rede, as quais solucionaremos através de investimentos já programados. Estamos investindo fortemente na estrutura do sistema de água para mitigar os problemas de abastecimento nos próximos meses. Inclusive, já perfuramos mais um poço artesiano para melhorar o volume de água.
6- A empresa vai utilizar as mesmas estruturas que já foram feita na cidade?
A rede de distribuição atual está sendo acionada aos poucos, pois temos identificados muitos problemas de vazamento Então, por questões de engenharia, temos feito de forma gradual. Assim, a medida que identificamos problemas corrigimos. Mas a Araricá Saneamento, conforme determina o contrato de concessão, tem previsto a construção de uma estação de tratamento de água, construção de estação de tratamento de esgoto, coleta, tratamento e destino final, implementação de adutoras, redes, ramais e ligações de água e esgoto, estações elevatórias, laboratório para
controle da qualidade da água. Precisamos atender seis indicadores de qualidade e desempenho de atendimento de abastecimento de água e esgotamento sanitário exigidos pelo Contrato de Concessão. Temos que respeitar o Indicador de Economias atingidas por Paralisações, Indicador de Análise de Qualidade da Água, Indicador de Qualidade de Efluentes Final, Indicador de Extravasamento de Estações Elevatórios de Esgoto, Indicador de Rompimento de Coletores e Indicador de Eficiência dos
Prazos de Atendimento.
7- Qual o projeto e o planejamento para o fornecimento de água e para a coleta de esgoto?
Temos que destacar que o município de Araricá é o primeiro município do Rio Grande do Sul com menos de 30 mil habitantes a conceder o serviço de saneamento à iniciativa privada. Só Araricá receberá, nos próximos anos, investimentos de mais de R$ 32 milhões para universalizar os sistemas de abastecimento de água e de esgotamento sanitário. Isto é, no caso do esgoto, as pessoas vão deixar de depositar em fossas, o que prejudica a saúde e o meio ambiente. Para se ter uma ideia, identificamos que muitas residências possuem poço artesiano próximo da fossa. E isso provoca contaminação da água e as pessoas estão consumindo essa água que pode prejudicar e causar sérios problemas de saúde. Enfim, a prefeitura municipal certamente não teria condições de fazer frente a esses investimentos. Devemos salientar ainda que esse movimento se deve ao Novo Marco Legal do Saneamento. A Lei Federal nº14.026/2020, conhecida como o Novo Marco Legal do Saneamento Básico, trouxe inúmeros desafios à Administração Pública e, por consequência, ao controle externo brasileiro. Os gestores públicos têm o dever de universalizar e qualificar a prestação dos serviços de água e esgoto até 2033, garantindo que 99% da população brasileira tenha acesso à água potável e 90% ao tratamento e à coleta de esgoto. Municípios que não cumprirem a legislação não poderão acessar verbas do Governo Federal. Em resumo, Araricá está a frente nesse processo e a Araricá Saneamento está trabalhando para o quanto antes auxiliar a municipalidade a cumprir essas metas em benefício dos cidadãos do muncípio.